Cioran: O Último Dândi

Emil M. Cioran

(Entrevista realizada em Paris, outubro de 1990)
Entrevistador: Fernando Savater

Cioran, o último dândi

Completará dentro de pouco tempo oitenta anos e segue tão vivaz e alerta como sempre. Ninguém menos morticínio que ele, ninguém menos lúgubre ou fastidiosamente solene. O melhor elogio teu que me ocorre é que não posso imaginá-lo-me [1] professor”: nasceu sem cátedra, a mesma que os outros levam no rosto desde crianças, ou colada nas costas como uma tartaruga e seu casco. Cândido e diabólico”, chamou-te o escritor italiano Pietro Citati, após fazer-te uma visita, depois ampliando assim teu retrato paradoxal: Elegante epicurista, imita os furores bíblicos; nutrido de aspirações místicas, és o mais cético dos indivíduos. Mundano e eremita, pungente e cortês, tranquilo e colérico, profeta e tolerante, dividido entre a avidez da vida e o sentido da irrealidade das coisas.” Um perfeito diletante transcendental, assim como foram Montaigne, Pascal e o próprio Nietzsche. O último dândi no sentido menos sentimental do termo, que corresponde a boêmios insubstituíveis como Baudelaire ou Villiers, capaz de dar-se ao luxo de rejeitar o convite de Bernard Pivot ao Apostrophes [2], argumentando: Não quero que as pessoas reconheçam minha face e estraguem-me o maior prazer de minha vida, os passeios pelo Jardim de Luxemburgo…

Vive no coração do bairro latino de Paris, a poucos passos do teatro Odeón. Seu apartamento é minúsculo, um pouco mais do que um chambre de bonne [3], com o retrete comunitário no patamar da escada. O espírito sopra onde quer e ali está um dos lugares mais altos de peregrinação intelectual da Europa. Em breve fará vinte anos que o frequento e ao entrar recebo a primeira surpresa: instalaram um elevador. Mas prefiro cumprir o ritual e subo os íngremes cinco andares com a ofegante ilusão de sempre. Encontrarei outras novidades? Quando o telefonei para organizar esta entrevista, me senti na obrigação de avisar-lhe, meio de gracejo: Cioran, disseram-me que devo tentar mostrar um lado novo e insólito de tua personalidade. Pois que tu digas-lhes que agora creio no progresso!”, respondeu rindo. É que como apareceu um artigo teu em meu jornal — lembrei-o timidamente — por causa da queda de Ceauşescu… [4] um artigo político e até otimista.” “Coisas que se faz, já sabes, a propensão ao ridículo. Na realidade, trocamos de catástrofe.” E o ouvir rir outra vez, mas agora quase seriamente.

* * *

Pergunta: Cioran, tu antes nunca havias falado publicamente da situação na Romênia. Mas agora fizeste varias declarações sobre os últimos acontecimentos de teu país natal. Por quê?

Resposta: Não podia fazê-las, compreendê-la. Tenho família lá, meu próprio irmão. Em contrapartida, eu estava aqui, em Paris, encoberto… Mas há uns meses eu estava em minha refeição e falava-se dos acontecimentos na Hungria, na Polônia, na Tchecoslováquia, em todos esses países. Um tipo muito insolente perguntou-me: “E da Romênia, o quê?” Disse-lhe: “não quero dizer nada”. O tipo ficou furioso e eu no fundo o compreendi, porque também sentia raiva. Então decidi escrever um artigo contra os romenos. Intitulá-lo-ia: “A nada Valaca”. [5] Quando estava a ponto de escrevê-lo, ocorreram todos os sucessos da Romênia. Confesso que senti um certo entusiasmo: era a primeira vez que os romenos despertavam nos últimos cinquenta anos!

P.: E o que opina da situação?

R.: Como não hei ido lá, não tenho um contato direto com a presente realidade. Há pouco tempo, vieram uns jovens a ver-me, em torno dos vinte anos, e causaram-me uma boa impressão pelo seu nível intelectual. Pelo que sei, os jovens são a única realidade da Romênia. Enquanto os demais, os velhos, a situação política… Não tenho boa opinião. Não houve aparentemente uma verdadeira mudança após a queda de Ceauşescu. As coisas seguem sendo muito parecidas, salvo em um ponto importante: agora há liberdade de expressão, pode-se criticar o governo, etc. É a única novidade realmente positiva. Ademais, os intelectuais estão muito decepcionados. Eu vejo que todos que vêm de lá a Paris querem ficar na França, o que tu compreenderás não é possível. Imagina-se que no ocidente todos os problemas estão resolvidos…

P.: Falemos um pouco da nova Europa que se está gestando. Por exemplo, a união da Alemanha. Trata-se de uma esperança ou de uma ameaça?

R.: Rotundamente, não é uma ameaça. Já sei que muitas pessoas veem essa união com medo, sobretudo na França, mas minha opinião é que se equivocaram. Não há perigo na Alemanha porque os alemães finalmente compreenderam. Fez falta um monstro como Hitler para que aprendessem a lição, mas isso já é um feito, e não creio que possa haver volta atrás.

P.: Também preocupa hoje a ascensão do racismo e da xenofobia.

R.: Olhe, na realidade é que a França, por exemplo, sente-se invadida. Há tempos atrevi-me a fazer uma profecia: disse que dentro de cinquenta anos a catedral de Notre-Dame seria uma mesquita. Há pouco um homem, político importante, comentou-me que eu era um otimista, que se haveria convertido em mesquita muito antes… Como tu sabes, sou apátrida, uma condição que convém muito com minhas ideias. Todos os anos, devo ir renovar meu papéis em um escritório situado em um bairro periférico de Paris, é um processo rápido e simples. Este ano encontrei filas enormes de árabes, negros e gente de todas as partes. Havia muita polícia, brigas, etc. São coisas que certamente criam um mal-estar. Naturalmente, este mal-estar logo é aproveitado pela extrema direita; todavia, mais além da direita ou da esquerda, o problema subsiste. Nota-se uma sensação de impotência e ninguém é capaz de ver uma saída. Na realidade é que na França, como no resto da Europa ocidental, já ninguém quer dedicar-se a trabalhos manuais e por isso tiveram de recorrer às pessoas de fora. Mas uma civilização está perdida quando renuncia o trabalho manual. Em minha juventude, li muito Spengler, quem agora já ninguém cita. Claro, suas opiniões políticas eram muito suspeitas, mas creio que seu diagnóstico era fundamentalmente justo, embora estivesse muito condicionado pela decadência da Alemanha de sua época. Nossa civilização está cansada… Por mim, sigo este assunto com autêntica fascinação. Afinal das contas, não é dada a todos a oportunidade de presenciar uma decadência!

P.: Citaste tu Spengler, uma antiga leitura. Pergunto-me o que lês tu agora. Obras novas, ou melhor dedica-se à releitura?

R.: Agora leio com maior liberdade do que antes, porque renunciei o escrever. Já não tenho nenhum projeto, de modo que posso ler o que se me agrada, coisas que se me haviam acumulado durante anos na biblioteca. Por exemplo, um estudo em quatro volumes sobre Pascal e seu século. Coisas assim. Pensamentos filosóficos, mas, sobretudo, história da filosofia. E também muitas biografias. Outro sinal de fadiga, tu vês? A afixação as biografias.

P.: Permita-me uma pergunta que quiçá pareça-te algo tolo. Se tu pudesses assinar uma obra das que admira, apropriando-se-la. Qual elegeria?

R.: A de algum desses tipos que viveram com esperança de uma revolução e logo foram decepcionados por ela.

P.: Chamfort, por exemplo?

R.: Esse é um exemplo perfeito! Amo esses personagens que viveram a ilusão e a decepção revolucionária, qualquer que seja sua orientação política. A revolução francesa produziu muitos, naturalmente. São pessoas que por fim tiveram a ocasião de entender.

P.: Atualmente diz-se que os intelectuais estão demasiado pendentes com os meios de comunicações, a televisão, etc. Tu mostraste-te relutante a essas seduções, mas não posso negar que agora és muito conhecido. Eu tive o privilégio de encontrar-te quando ainda muito poucos sabiam de tua existência.

R.: Então eu não existia! E crê-me, era perfeito. Penso que não é bom para um escritor ser extremamente conhecido. Em meu caso, a explicação é muito simples: deve-se ao livro de bolso. Claro, não estou contra o livro de bolso, porque é o que leem os jovens. Desde que apareci em livros de bolso, recebo muitas cartas de jovens, muitas mais do que as que posso responder. Mas o período mais interessante de minha vida, pelo menos para mim, foi quando ninguém me conhecia. Eu ia a jantares, a coquetéis, e as pessoas perguntavam: “Quem será que é este tipo?”. Sabiam que era amigo de Beckett, de Ionesco, etc., mas no fundo não sabiam nada de mim. Agora, tu já vês… Cansa isso de que te conheçam por inteiro. Mas, enfim, outras desgraças maiores há.

P.: Na Espanha e na América Latina atualmente há uma notável polêmica em torno da celebração do V centenário do descobrimento da América. Uns dizem que foi um grande acontecimento civilizatório e outras falam das matanças, etc. Achas tu que se pode celebrar a história?

R.: Não, por favor, a história é uma matança! É o mesmo que ocorreu aqui ano passado em motivo da revolução francesa. Se alguém ler os grandes estudos abstratos, as teorias, as proclamações da época, muito que bem; mas quando se lê as memórias do que viveram esses acontecimentos, dá-se conta de que foram espantosos. O que é bom para a história é ruim para os indivíduos: deve-se ler memórias para compreender isso. Na revolução francesa começou o hábito da denúncia, que os franceses logo conservaram, com viu-se durante a II Guerra Mundial.

P.: Falando da França, parece que há um perceptível declínio da influência da língua francesa frente ao auge do inglês e do espanhol.

R.: Sim, é a grande perdedora. Trata-se de uma verdadeira catástrofe. Nota-se, quando os franceses chegaram à Romênia, após a queda do Ceauşescu, para prestar sua ajuda econômica, encontrou-se que todo mundo sabe falar francês. Sabes tu por quê? Porque a ditadura comunista manteve-os separados do resto do mundo. Na Romênia sempre houve paixão pela cultura francesa, todos queriam ler em francês e ir à França. Algo quase mórbido! Após a França e a Bélgica, foi o terceiro pais na difusão de livros em francês. A ditadura conservou esse entusiasmo ao separar as pessoas do resto do mundo. Mas agora os mais jovens começam já a aprender inglês. Tu vês? Isto é a história: o devir do irreparável.

P.: Sempre me chamou a atenção que, apesar de teu tom pessimista, teus livros sempre contêm algo parecido com a alegria, o humor, uma espécie de alacridade na demolição.

R.: Sabes tu por quê? Porque, para mim, escrever é uma terapia, exatamente isso. Escrevi para curar-me. O primeiro livro de minha vida, Nos Cumes do Desespero (Recentemente apareceu em francês e está em vias se ser traduzido ao espanhol [6]), escrevi-o — em romeno, naturalmente — para não me suicidar. Sou filho de um sacerdote ortodoxo, e aos vinte e um ou vinte e dois anos de idade, quando acabei meus estudos em Sibiu, passei por uma crise terrível. Não podia dormir. Acho que a insônia sistemática é algo como um aperitivo do inferno… Passava-me a noite toda andando pelas ruas dessa preciosa cidade da Transilvânia, entre as prostitutas, minhas companheiras do noturno. Meus pais estavam desesperados porque não sabiam como isso acabaria, e eu não pensava em mais nada além de suicídio. Então escrevi meu primeiro livro e assim aliviei-me um pouco. Mas acho que o que me salvou disso tudo foi haver-me vindo para a França. Se houvesse seguido na Romênia, não creio que haveria conseguido. Minha obsessão era Paris. Viver em Paris e não fazer nada! Consegui uma bolsa por três anos que me permitiu cumprir esse sonho. Vim-me aqui sem profissão, sem trabalho, sem nada, e assim vivi. A única coisa que fiz foi viajar-me a França inteira de bicicleta.

P.: Falando nisso agora recordo que tu foste um grande ciclista. Há anos, em um programa de rádio sobre o ciclismo na França, entrevistaram-te. Chegou a competir alguma vez?

R.: Não, competir não, mas digo-te que viajei a França inteira de bicicleta. Durante meses, a Costa Azul, Provença, tudo… Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, como não tinha dinheiro para hospedar-me em hotéis, parava nos albergues de jovens, que estavam fundamentalmente nas mãos dos católicos e dos comunistas. Assim cheguei a conhecer muito bem as opiniões e a disposição política dos franceses. Verás o que ocorreu, é divertido. Então nomearam meu amigo Mircea Eliade, agregado cultural em Londres; ao passar por Paris perguntou-me como eu via o ambiente na França diante da guerra que se preparava. Disse-lhe rotundamente que os franceses não lutariam. Eliade comentou-se-o ao embaixador Romeno em Londres, e este comunicou-se-o aos ingleses. Não o acreditaram, porque haviam enviado um observador, um lorde ou algo assim, que se entrevistou com uns quantos intelectuais em Paris e voltou convencido da reinante disposição bélica. Claro, nem todo mundo tem a sorte de dormir em albergues de jovens, que é a forma de inteirar-se das coisas! Ao final da guerra, recebeu um convite para almoçar com o embaixador romeno, o qual não conhecia. Disse-me que os ingleses ficaram muito impressionados por minha clarividência quando a guerra começou e resultou que os franceses, na realidade, não lutaram. “Mas como tu o sabias?”, perguntaram-lhe. E ele respondeu misteriosamente: “Disseram-no-me meus informantes…”. O pobre homem, um funcionário muito medíocre, estava-me muito agradecido porque devia a mim seu momento de glória em Londres.

P.: Tu pensas em voltar à Romênia?

R.: Não, nunca. Agora há pouco tentaram levar-me, mas nego-me. Que sentido teria eu voltar para meu país depois de cinquenta anos de ausência? Todos que eu conhecia morreram, seria como ir a um cemitério. Agradar-me-ia, isso sim, voltar a meu povoado natal, Rășinari. Mas fui demasiado feliz nele durante minha infância e não suportaria vê-lo outra vez. Agradar-me-ia falar com os camponeses, com as pessoas do campo… O povo romeno é o mais cético que há. É alegre e desesperado ao mesmo tempo. Por razões históricas, cultiva a religião do fracasso. Recordo de um tipo em minha infância, um camponês que havia herdado uma enorme herança. Passava-se o dia de taberna em taberna, sempre bêbado, acompanhado por um violinista que tocava para ele. Enquanto os demais iam ao campo trabalhar, ele passeava de taberna em taberna, o único homem feliz do mundo. Enquanto ouvia o som do violino eu corria para vê-lo passar, porque me fascinava. Gastou-se-o tudo em dois anos e logo se morreu. Não, não voltarei à Romênia.

P.: É certo que não escreverás nunca mais? Olhe que já disse-o-me antes muitas vezes…

R.: Agora é sério. Naturalmente a expressão alivia, mas eu já escrevi muito. Cinco livros em romeno e dez em francês, é demasiado! Todos escrevem em demasia, e eu não quero cair no mesmo vício. Para que multiplicar os livros? Abdico porque ninguém quer abdicar. Disse-o mais de uma vez publicamente: Já caluniei bastante o universo.

P.: Cioran, para quem realmente pensa, não há mais do que dois problemas essenciais na reflexão, os maiores tópicos, os únicos imprescindíveis: o amor e a morte. De um modo ou outro, tu hás-te referido muitas vezes a ambos. A estas alturas de tua vida, quando disse que já que não quer escrever mais, diga-me uma palavra sobre essas questões.

R.: A verdade é que eu fui muito um grande amante no tratamento com as prostitutas. As de antigamente, na minha juventude pelo menos, tinham uma espécie de sabedoria, uma experiência da vida que não encontrei em nenhuma outra parte. Eu frequentava-as muito na Romênia, e aprendi muito, porque me agradava falar com elas. Bem, não só falar, é claro! Em minha breve temporada como professor de instituto falava a meus alunos que não queria vê-los pelos bordéis a partir das nove da noite: nesta hora começava o turno dos professores… Certa noite, uma disse-me que seu marido acabara de morrer. Era jovem, bonita. Disse-me que quando fazia amor com alguém via o cadáver do marido na cama, a seu lado. Deve-se ir aos bordéis para escutar coisas tão profundas! Por mais duvidoso que seja esse romantismo, sempre se aprende algo.

P.: Em ocasiões, tu reprovaste a filosofia ocidental ocultar a presença da morte, escamotear o cadáver.

R.: É curioso, mas há quem não sente a obsessão pela morte, sua permanente tocaia. Eu senti-a sempre, em todos os momentos de felicidade. Sobretudo na felicidade. É algo que não impede de viver, todavia que dá um tom distinto à vida. Curiosamente, com a velhice diminui essa obsessão. Marcou sobretudo minha juventude.

P.: Para quem não te conhece, tu podes aparentar um personagem solitário, egocêntrico, desapegado dos demais. Mas na realidade tu és uma pessoa muito compassiva, sempre disposta a ajudar os outros, embora não o converta em uma doutrina edificante. Não há um fundo de budismo nesta atitude?

R.: Durante muito tempo considerei-me budista. Agora, com a velhice, tornei-me mais superficial, mas o budismo foi para mim a religião. Acerca do cristianismo tal me parece lixo, mas não o budismo… Não necessito de uma religião, mas no caso de necessitá-la seria a budista. Sim, não posso negar que ajudei muita gente. Impedi que muitos se suicidassem, vês tu. Defendi a ideias do suicídio, mas disse-lhes que não há nenhuma pressa… Recordo de uma ocasião em que durante três horas passeei pelo Luxemburgo com um engenheiro que queria suicidar-se. Ao fim o convenci que não o fizesse. Disse-lhe que o importante era haver concebido a ideia, saber-se livre. A ideia do suicídio é a única coisa que faz a vida suportável, todavia há que saber explorá-la, não apressar-se a tirar as consequências. É uma ideia muito útil: deveriam dar cursos sobre ela nos colégios!

* * *

Empenha-se em acompanhar-me até a Praça de Odeón, como sempre, porque Paris é perigosa durante a noite”. Inauguramos junto o recente elevador de sua casa. Quando nos abraçamos para despedir-nos, disse-lhe que fazíamos aniversário, que já faz vinte anos que nos conhecemos. Não está mal, hem?”, comenta sorrindo. E distancia-se, e como sempre me fico sem dizer-lhe o mais importante, o orgulho e o ensinamento que me há dado sua amizade, a alegria sem falha e sem ênfase de sua companhia. Mas são coisas que não se devem dizer. Pelo menos, não a Cioran.

 

Notas do tradutor:

[1] Esse tipo de colocação pronominal não é usada no português, mas como é uma característica extremamente importante, marcante e comum no espanhol, e de leitura compreensível, optei por mantê-la. Por exemplo, a oração em espanhol: “trae tu coche a mi.” (traga seu carro para mim), substitui-se “coche” (carro) pelo pronome oblíquo “lo” (o), e o “a mi” (para mim) pelo pronome oblíquo “me” (me), então a sentença em questão transforma-se em: “traemelo”. Já no português não se substitui tudo por pronomes oblíquos, neste mesmo caso, mas em português, a sentença ficaria: “tragá-lo para mim”, ou “traga-me o carro”, e não: “tragá-lo-me”.

[2] Apostrophes foi um famoso programa da televisão francesa do jornalista Bernard Pivot que foi ao ar do ano de 1975 a 1990, onde eram entrevistados literatos de renome como Charles Bukowski; dizia-se que uma aparição no Apostrophes poderia render milhares de livros vendidos.

[3] Chambre de bonne é um tipo de apartamento francês que consiste em um quarto individual. Localizam-se geralmente nos pisos superiores apenas acessíveis por uma escada de serviço separada, e inicialmente destinavam-se aos parentes dos empregados.

[4] Nicolae Ceauşescu (1918-1989), foi um ditador, presidente da Romênia comunista de 1965 até sua execução em 1989.

[5] Valaca é uma língua falada na Romênia.

[6] Também traduzido para o português por Fernando Klabin, e lançado pela Editora Hedra em 2012.

  • tradução: Marcelo Rafanelli Rosatti
  • fonte: El País, jueves, 25 de octubre de 1990