Refutação de alguns argumentos a favor da existência de deus

Dan Baker

Os teístas afirmam que existe um deus; os ateus não. Pessoas religiosas desafiam frequentemente ateus a provarem que não há deus; mas isso revela um equívoco. Os ateus afirmam que a existência de deus não está provada, não afirmam que está provada a inexistência de deus. Em qualquer argumento, o ônus da prova está do lado daquele que faz a afirmação.

Se uma pessoa afirma ter inventado um dispositivo antigravidade, não cabe a outros provar que tal coisa não existe. O crente tem de provar a sua afirmação. Todas as outras pessoas estão justificadas em recusar acreditar até que a evidência seja apresentada e substanciada.

Alguns ateus acham que o argumento é confuso até que o termo “deus” seja tornado compreensível. Palavras como “espírito” e “sobrenatural” não têm qualquer coisa que lhes corresponda na realidade, e ideias como “onisciente” e “onipotente” são contraditórias. Por que discutir um conceito sem sentido?

No entanto, há muitas linhas de raciocínio teísta e têm sido escritos livros sobre cada uma delas. As seções seguintes resumem brevemente os argumentos e as refutações. O ateísmo é a posição base que permanece quando todas as alegações teístas são rejeitadas.

Design

“De onde veio tudo? Como é que explica a ordem complexa do universo? Não posso acreditar que a beleza da natureza simplesmente apareceu por acidente. O design requer um projetista.”

Este argumento limita-se a pressupor que é verdade aquilo que quer provar. Qualquer tentativa de “explicar” algo requer um contexto mais amplo dentro do qual a explicação pode ser compreendida. Pedir uma explicação do “universo natural” é simplesmente pedir um “universo mais amplo”.

O universo é “tudo que existe”. Não é uma coisa. Um deus certamente seria uma parte de “tudo que existe”, e se o universo requer uma explicação, então deus requer um [outro] deus, ad infinitum.

A mente de um deus seria pelo menos tão complexa e ordenada quanto o resto da natureza e estaria sujeita à mesma pergunta: Quem fez deus? Se um deus pode ser encarado como eterno, então o universo também pode ser encarado como eterno.

Há design no universo, mas falar de design do universo é apenas semântica teísta. O design que observamos na natureza não é necessariamente inteligente. A vida é o resultado do “design” não-consciente da seleção natural. A ordem no cosmos vem do “design” da regularidade natural. Não há qualquer necessidade de uma explicação mais ampla.

O argumento do design baseia-se na ignorância, não em fatos. O fracasso em solucionar um enigma natural não significa que não há resposta. Durante milênios os humanos têm criado respostas míticas para “mistérios” como o trovão e a fertilidade. Mas quanto mais aprendemos, menos precisamos de deuses. A crença em deus é apenas responder a um mistério com outro mistério e, consequentemente, não responde a nada.

“O universo é governado por leis naturais. Leis requerem um legislador. Tem de existir um Governador Divino.”

Uma lei natural é uma descrição, não é uma prescrição. O universo não é “governado” por coisa alguma. As leis naturais são meramente concepções humanas sobre o modo como as coisas normalmente reagem, não são mandamentos sobre o comportamento, como no caso de leis sociais. Se o argumento do design fosse válido, a mente de um deus seria igualmente “governada” por algum princípio de ordem, o que requereria um legislador superior.

“É impossível que a complexidade da vida tenha ocorrido por acidente, e a segunda lei da termodinâmica, que diz que todos os sistemas tendem para a desordem, torna a evolução impossível. Era necessário um Criador.”

Estas objeções pseudocientíficas baseiam-se em erros. Nenhum biólogo afirma que organismos apareceram subitamente num passo de mutação “acidental”. A evolução é a acumulação gradual de pequenas mudanças ao longo de milhões de gerações de adaptação ao ambiente. Os humanos, por exemplo, não tinham necessariamente de evoluir — qualquer uma de bilhões de possibilidades viáveis podia ter-se adaptado, tornando muito provável que algo sobreviveria à implacável seleção natural.

Usar probabilidades, depois do fato consumado, é como um vencedor da lotaria que dissesse: “É altamente improvável que eu pudesse ganhar esta lotaria, portanto não devo ter ganho”.

Os criacionistas deturpam muitas vezes a segunda lei da termodinâmica, que diz que a desordem aumenta num sistema fechado. A Terra, atualmente, é parte de um sistema aberto, recebe energia do sol. Conduzida pela entrada de energia solar (e outras formas de energia, como a química), a complexidade comumente aumenta, como no caso do crescimento de um embrião ou um cristal. Claro que por fim o sol arrefecerá e a vida na terra desaparecerá.

Experiência Pessoal

“Milhões de pessoas conhecem pessoalmente Deus através de uma experiência espiritual interior.”

A maioria dos teístas afirma que o seu deus particular pode ser conhecido através de meditação e oração, mas essas experiências não apontam para algo exterior à mente. O misticismo pode ser explicado psicologicamente; não é necessário complicar a nossa compreensão do universo com suposições fantasiosas. Sabemos que muitos humanos habitualmente inventam mitos, ouvem vozes, têm alucinações e falam com amigos imaginários. Não sabemos que existe um deus.

Há milhões de crentes em deus; mas essa é uma declaração sobre a Humanidade, não sobre deus. A verdade não é algo que se alcança através do voto. As religiões surgiram para lidar com a morte, fraqueza, sonhos e medo do desconhecido. São mecanismos poderosos para dar sentido à vida e identidade pessoal/cultural. Mas as religiões diferem radicalmente umas das outras, e apelos à experiência interior apenas pioram o conflito.

“Os ateus não têm discernimento espiritual e dificilmente poderiam criticar a experiência teísta de Deus. Isso seria como uma pessoa cega negando a existência das cores.”

Muitos teístas afirmam que deus é conhecido através de uma sensibilidade “espiritual”. Mas será que a fé é um “sexto sentido” que detecta outro mundo? Céticos negam que tal coisa exista.

A analogia com o cego não é apropriada porque as pessoas cegas não negam o sentido da visão, nem negam que as cores existam. Os cegos e os que veem vivem no mesmo mundo, e ambos podem compreender os princípios naturais envolvidos. O caminho da luz pode ser traçado através de um olho normal até ao cérebro. As frequências podem ser explicadas e o espectro pode ser experimentado independentemente da visão. A existência da cor não precisa ser aceita através da fé.

O teísta, porém, não apresenta qualquer meio independente de testar o discernimento “espiritual”, portanto temos de duvidar disso. O cético não nega a realidade de experiências religiosas subjetivas, mas sabe que podem ser explicadas psicologicamente sem referência a um domínio supostamente transcendente.

A afirmação implícita de que os teístas são os únicos seres humanos “completos” é infundada e arrogante.

Moralidade

“Todos nós temos um sentido do certo e do errado, uma consciência que nos coloca sob uma lei superior. Este apelo moral universal aponta para fora da Humanidade. É consistente que Deus, um ser não-físico, se relacionasse conosco através de tal meio sublime.”

Aqui está outro argumento baseado na ignorância. Os sistemas éticos baseiam-se no valor que os humanos atribuíram à vida: “bem” é aquilo que melhora a vida, e “mal” é aquilo que a ameaça. Não precisamos de uma divindade para nos dizer que é errado matar, mentir ou roubar. Os humanos sempre tiveram o potencial para usar as suas mentes para determinar o que é bondoso e razoável.

Não existe um “apelo moral universal” e nem todos os sistemas éticos concordam entre si. Poligamia, sacrifícios humanos, canibalismo (eucaristia), espancamento da esposa, automutilação, guerra, circuncisão, castração e incesto são ações perfeitamente “morais” em algumas culturas. Será que deus está confuso?

É contraditório chamar a deus “ser não-físico”. Um ser tem de existir como alguma forma de massa no espaço e no tempo. Os valores residem no interior dos cérebros físicos, portanto se a moralidade aponta para “deus”, então nós somos deus: o conceito de deus é simplesmente uma projeção de ideais humanos.

“Se não existe um padrão moral absoluto, então não existe certo e errado absolutos. Sem Deus, não há base ética e a ordem social desintegrar-se-ia. As nossas leis baseiam-se na Bíblia.”

Este é um argumento a favor da crença num deus, não é um argumento a favor da existência de um deus. A exigência de uma moralidade “absoluta” só vem de religiosos inseguros. (Voltaire ironizou: “Se deus não existisse, seria preciso inventá-lo”.) Pessoas maduras sentem-se confortáveis com o caráter relativo do humanismo, visto que este fornece um quadro de referência consistente, racional e flexível para o comportamento humano ético — sem uma divindade.

As leis americanas baseiam-se numa constituição secular, não se baseiam na Bíblia. Quaisquer textos bíblicos que apoiem uma boa lei só fazem isso porque passaram no teste dos valores humanos, que são muito anteriores aos ineficazes Dez Mandamentos.

Não há evidência de que os teístas são mais morais que os ateus. De fato, o contrário parece ser verdadeiro, conforme evidenciado por séculos de violência religiosa. Em sua maioria, os ateus são pessoas felizes, produtivas e morais.

Mesmo que este argumento fosse verdadeiro, seria de pouco valor prático. Cristãos devotos e crentes na Bíblia não conseguem concordar entre si quanto ao que a Bíblia diz sobre muitas questões morais cruciais. Crentes comumente adotam posições opostas em assuntos tais como pena de morte, aborto, pacifismo, controle de natalidade, suicídio medicalmente assistido, direitos dos animais, ambiente, separação entre igreja e estado, direitos dos homossexuais e direitos das mulheres. Disso pode concluir-se que ou há uma multiplicidade de deuses distribuindo conselhos morais contraditórios, ou um único deus que está irremediavelmente confuso.

Primeira Causa

“Tudo teve uma causa, e toda a causa é o efeito de uma causa anterior. Algo deve ter começado tudo. Deus é a primeira causa, o estático que move, o criador e sustentáculo do universo.”

A premissa maior deste argumento, “tudo teve uma causa”, é contrariada pela conclusão de que “Deus não teve uma causa”. As duas afirmações não podem ser simultaneamente verdadeiras. Se tudo teve uma causa, então não pode ter havido uma primeira causa. Se é possível pensar num deus sem causa, então é possível pensar o mesmo do universo.

Alguns teístas, vendo que todos os “efeitos” precisam de uma causa, afirmam que deus é uma causa, mas não é um efeito. Mas ninguém jamais observou uma causa não-causada, e inventar simplesmente uma causa não-causada apenas pressupõe o que o argumento quer provar.

(Para um exame detalhado do moderno “Argumento Cosmológico Kalam”, veja o meu artigo Cosmological Kalamity.)

Aposta de Pascal

“Não se pode provar que Deus existe. Mas se Deus existe, o crente ganha tudo (céu) e o descrente perde tudo (inferno). Se Deus não existe, o crente nada perde e o descrente nada ganha. Portanto, há tudo a ganhar e nada a perder ao acreditar em Deus.”

O argumento, formulado originalmente pelo filósofo francês Blaise Pascal, é pura intimidação. Não é um argumento a favor da existência de um deus: é um argumento a favor da crença, baseado em medo irracional. Com este tipo de raciocínio, deveríamos simplesmente escolher a religião que tivesse o pior inferno.

Não é verdade que o crente nada perde. Diminuímos esta vida ao preferir o mito de uma vida após a morte, e sacrificamos a honestidade à perpetuação de uma mentira. A religião exige tempo, energia e dinheiro, desviando recursos humanos valiosos do melhoramento deste mundo. O conformismo religioso, um instrumento de tiranos, é uma ameaça à liberdade.

Também não é verdade que o descrente nada ganha. Rejeitar a religião pode ser uma experiência libertadora positiva, ganhando perspectiva e liberdade para questionar. Os livres-pensadores sempre estiveram na linha da frente do progresso social e moral.

Que tipo de pessoa torturaria eternamente alguém que duvida honestamente? Se o seu deus é tão injusto, então os teístas correm tanto perigo como os ateus. Talvez deus tenha um gozo perverso em mudar de ideias e condenar toda a gente, crentes e descrentes por igual. Ou, invertendo a aposta, talvez deus só salve aqueles que têm coragem suficiente para não crer!

Pascal era um católico e supôs que a existência de deus significava o Deus cristão. No entanto, o Alá islâmico poderia ser o verdadeiro deus, o que torna a aposta de Pascal uma aposta mais arriscada do que se pretendia.

De qualquer modo, crer numa divindade com base no medo não produz admiração. Não se segue daí que tal ser mereça ser adorado.

(Veja o Capítulo 12: “What If You’re Wrong?” em Losing Faith In Faith: From Preacher To Atheist para uma resposta mais completa à aposta de Pascal.)

Argumento Ontológico

“Deus é um ser tal que nenhum ser maior pode ser concebido. Se deus na realidade não existe, então é possível concebê-lo como maior do que é. Portanto, Deus existe.”

Há dezenas de variantes do argumento ontológico, mas S. Anselmo foi o primeiro a articulá-lo deste modo. A falha neste raciocínio é tratar a existência como um atributo. A existência é um dado adquirido. Nada pode ser grande ou perfeito a menos que exista primeiro, portanto o argumento está invertido.

Uma boa maneira de refutar este raciocínio é substituir “ser” e “Deus” com outras palavras. (“A Ilha do Paraíso é uma ilha…”) Dessa forma poderíamos provar a existência de um “vácuo” perfeito, o que significaria que nada existe!

O argumento esmaga-se a si próprio, porque pode conceber-se deus como tendo massa infinita, o que é refutado empiricamente. E está-se a comparar maçãs com laranjas ao se supor que a existência na concepção pode de alguma forma estar relacionada com a existência na realidade. Mesmo que a comparação fosse válida, por que é a existência na realidade “maior” (seja lá o que isso signifique) do que a existência na concepção? Talvez seja ao contrário.

Não admira que Bertrand Russell tenha dito que todos os argumentos ontológicos são um caso de má gramática!

Revelação

“A Bíblia é historicamente confiável. Não há razão para duvidar dos testemunhos dignos de confiança que resistiriam em tribunal. Deus existe porque Ele se revelou através da Bíblia.”

A Bíblia reflete a cultura do seu tempo. Embora boa parte do seu enredo seja histórico, também há uma boa parte que não é. Por exemplo, não há apoio contemporâneo para a história de Jesus fora dos evangelhos, que foram escritos por desconhecidos entre 30 a 80 anos depois da alegada crucificação (dependendo do perito que consultarmos). Muitos relatos, como as histórias da criação, entram em conflito com a ciência. As histórias da Bíblia são apenas isto: histórias.

A Bíblia é contraditória. Um bom exemplo é a discrepância entre as genealogias de Jesus dadas por Mateus e Lucas. A história da ressurreição de Jesus, contada por pelo menos 5 escritores diferentes, é irremediavelmente irreconciliável. Peritos descobriram centenas de erros bíblicos que não têm sido satisfatoriamente explicados por apologistas.

A Bíblia, tal como outros escritos religiosos, pode ser explicada em termos puramente naturais. Não há razão para exigir que seja ou completamente verdadeira ou completamente falsa. O cristianismo está repleto de paralelos de mitos pagãos, e a sua emergência como seita messiânica do século II resulta das suas origens sectárias judaicas. Os autores dos evangelhos admitem que estão a escrever propaganda religiosa (João 20:31), o que é uma pista de que devem ser tomados com algumas reservas.

Thomas Paine, em The Age of Reason (A Idade da Razão), indicou que a Bíblia não pode ser revelação. Revelação (se existe) é uma mensagem divina comunicada diretamente a alguma pessoa. Assim que essa pessoa o relata, isso se torna um rumor em segunda mão. Ninguém está obrigado a acreditar nisso, especialmente se for fantástico. É muito mais provável que relatos sobre o miraculoso sejam devidos a erro honesto, engano deliberado ou interpretação teológica meticulosa de eventos perfeitamente naturais.

Alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias. Um critério da história crítica é a suposição de regularidade natural ao longo do tempo. Isso exclui milagres, que por definição “passam por cima” das leis naturais. Se admitirmos a existência de milagres, então todos os documentos, incluindo a Bíblia, tornam-se inúteis enquanto história.

Ciência

“Há muitos cientistas que acreditam em Deus. Se muitas das pessoas mais inteligentes do mundo são teístas, então a crença em Deus deve ser sensata.”

Isto não passa de um apelo à autoridade, que os ateus também poderiam fazer, e até melhor. Os acadêmicos, como grupo, são muito menos religiosos que a população em geral. Embora seja fácil encontrar cientistas que são crentes, nenhum deles consegue demonstrar cientificamente a sua fé. A crença é normalmente um assunto cultural ou pessoal separado da ocupação e ninguém, nem mesmo um cientista, é imune às seduções irracionais da religião.

“A nova ciência da física quântica está a mostrar que a realidade é incerta e menos concreta. Agora há lugar para milagres. Uma perspectiva teísta do mundo não é inconsistente com a ciência.”

Isso é um disparate. Um milagre é supostamente uma suspensão das leis naturais que aponta para um domínio transcendente. Se a nova ciência torna os milagres naturalmente possíveis (um conceito contraditório), então não há domínio sobrenatural, nem deus.

Na física quântica, o termo “incerteza” não se aplica à realidade, mas antes ao nosso conhecimento da realidade.

O teísmo implica um domínio sobrenatural. A ciência limita-se ao mundo natural. Portanto, o teísmo nunca pode ser consistente com a ciência, por definição.

“A crença em Deus não é intelectual. A razão é limitada. A verdade de Deus só pode ser conhecida através de um salto de fé, que transcende mas não contradiz a razão.”

Isso não é argumento. Admitir que algo é não-intelectual remove esse assunto do domínio da discussão. Sim, a razão é limitada: é limitada aos fatos. Se você ignorar os fatos, só fica com hipóteses e o desejo de que fossem reais.

Fé é a aceitação da verdade de uma declaração apesar de evidência insuficiente ou contraditória, o que nunca foi consistente com a razão. A fé, pela sua própria invocação, é uma admissão transparente de que as alegações religiosas não se conseguem manter de pé por si mesmas.

Mesmo que o teísmo fosse uma hipótese consistente (não é), ainda precisaria de ser provado. É por isso que a maioria dos teístas minimiza a prova e a razão e enfatiza a fé, por vezes afirmando de forma ridícula que a ciência requer fé, ou que o ateísmo é uma religião.

Poderes Psíquicos

“Há forte evidência de poderes psíquicos, reencarnação e coisas semelhantes. Você tem de admitir que há ali alguma coisa!”

A maioria dos cientistas discorda que haja forte evidência para alegações “paracientíficas”. Quando cuidadosamente examinadas com controles rígidos, são geralmente expostas como deturpações ou completa fraude.

Mesmo que essas alegações fossem legítimas, fenômenos misteriosos podem ter explicações perfeitamente naturais. Nesses casos, os céticos preferem suspender o julgamento em vez de se lançarem em conclusões supersticiosas.

Conclusão

Deve notar-se que mesmo que estes argumentos teístas fossem válidos, não estabeleceriam o criador como sendo pessoal, singular, perfeito e atualmente vivo (exceto o argumento da “revelação”, que tem a liberdade de criar qualquer tipo de deus que se deseje). E nenhum desses argumentos lida com a presença de caos, maldade e dor no mundo, o que torna uma divindade onipotente responsável pelo mal.

Muitos teístas, quando se apercebem que os seus argumentos filosóficos falharam, recorrem a ataques pessoais estereotipados. Todos os ateístas são rotulados de infelizes, imorais, encolerizados, arrogantes, demoníacos, vilões insensíveis que não têm razão para viver. Isso é falso e injusto. Mas mesmo que fosse verdade, isso não tornaria o teísmo correto.

Visto que o exame cuidadoso mostra que todos os argumentos teístas são inválidos, o ateísmo fica como a única posição racional.

Definições

Religião: Sistema de pensamento ou prática que alega transcender o nosso mundo natural e que exige conformidade a um credo, Bíblia ou salvador.

Deus: Um ser que criou e/ou governa o universo. Normalmente é definido com aspectos pessoais como inteligência, vontade, sabedoria, amor e ódio, e com aspectos sobrehumanos como onipotência, onisciência, imortalidade, onibenevolência e onipresença. É mais frequente ser retratado como interagindo com a Humanidade, mas por vezes diz-se que é uma “força” impessoal ou a própria natureza.

Teísmo: Crença em deus ou deuses.

Ateísmo: Ausência de crença em deus ou deuses.

Agnosticismo: Recusa em aceitar a verdade de uma proposição para a qual a evidência ou a justificação lógica são insuficientes. A maioria dos agnósticos suspende julgamento quanto à crença em deus.

Livre-pensamento: A prática de formar opiniões sobre religião com base na razão, sem referência à autoridade, tradição ou crença estabelecida.

Racionalismo: A ideia de que todas as crenças deviam ser sujeitas aos métodos provados da investigação racional. Tratamentos especiais como fé e autoridade, que não são permitidos em outras disciplinas, não são aceitos para analisar a religião.

Verdade: O grau em que uma afirmação corresponde à realidade ou à lógica.

Realidade: Aquilo que é diretamente perceptível através dos nossos sentidos naturais, ou averiguado indiretamente através do uso correto da razão.

Razão: Uma ferramenta de pensamento crítico que limita a verdade de uma proposição por testes de verificação (que evidência ou observações reproduzíveis a confirmam?), falseabilidade (o que, teoricamente, a refutaria, e essas tentativas falharam todas?), parcimônia (é a explicação mais simples, requerendo o menor número de suposições?) e lógica (está livre de contradições e non sequiturs?).

Humanismo: Humanismo secular é uma perspectiva racionalista que faz da humanidade a medida dos valores.

Todas estas palavras sofreram múltiplas definições. É evidente que a definição de religião pode variar com cada religioso. Muitos ateus consideram-se a si mesmos livres-pensadores, racionalistas e agnósticos, visto que estes não são rótulos mutuamente exclusivos. O agnosticismo é aqui definido seguindo a intenção original de Huxley, embora o uso popular corrente trate o agnosticismo como um meio termo entre o teísmo e o ateísmo. Toda a pessoa que, por qualquer razão, não possa dizer “eu tenho uma crença num deus”, é um ateu.

Leitura Adicional

  • The Age of Reason, Thomas Paine.
  • An Anthology of Atheism and Rationalism, editado por Gordon Stein, Prometheus Books, New York, 1980.
  • A Second Anthology of Atheism and Rationalism, editado por Gordon Stein, Ph.D., Prometheus Books, New York, 1987.
  • Atheism: A Philosophical Justification, Michael Martin, Temple University Press, Philadelphia, 1990.
  • Atheism: The Case Against God, George Smith, Prometheus Books, New York, 1979.
  • Bertrand Russell on God and Religion, editado por Al Seckel, Prometheus Books, New York, 1986.
  • Critiques of God: Making the Case Against Belief in God, editado por Peter Angeles, Prometheus Books, New York, 1976.
  • Ten Common Myths About Atheists, Annie Laurie Gaylor, Freedom From Religion Foundation, Madison, Wisconsin (folheto), 1987.

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Este capítulo originalmente foi impresso como um folheto, e vendido e distribuído aos membros da Freedom From Religion Foundation. O seu propósito é fornecer uma resposta pronta e resumida para argumentos teístas comuns. A maior parte dos argumentos foi desenvolvida mais detalhadamente em outras partes do livro Losing Faith In Faith: From Preacher To Atheist, de Dan Barker.

Copyright © 1992 by Dan Barker. Todos os direitos reservados.